Saturday, 5 November 2011

CSDC - Center for Self-Development and Creativity


This is the program I offer to a reduced number of participants who are aware of the great potential they possess inside but do not know how to unleash the power!

Creativity expresses itself in whatever we do, once we allow it to! Cooking, performing, writing, cleaning the house, no matter what we do we can either do it in a creative way or in a bureaucratic/mechanical way.

Reprograming our brains, training our bodies, creating the space for a new flow of energy, of seeing ourselves and the world around is what we do together during the CSDC Workshops.

Once again, as it has become a trade mark on my Workshops, I utilize techniques from sources that vary from Theater, Dance, Physics, Yoga, Brain Gym, and combine it with videos from leading experts in the latest research on the brain, General health and Creativity.

The Workshops happens once a week and each module lasts for 4 weeks. We meet at my private space in the center of Copenhagen, 5 minutes walk away from Nyhavn and Kongens Nytorv Subway station.
If you want to know when the next module starts please contact me at: 31568611

Here goes a testimony from one of the Participants, Noreen O'Sullivan Krogsgaard, American Author living in Denmark, responsible for the successful series: "I'll tell why..."

The classes I took with you changed the way I live my life, sounds heavy but it is true. I learned so much about the way we project ourselves in this life, and how that can relate to my kids,friends and family. I am a stronger person because of you, thank you... and don't EVEN get me started on what I learned about right vs. left brain dominated personalities !!!

Tuesday, 25 October 2011

My work with NOVO NORDISK

One of my Workshops at Novo Nordisk

This is a little article about one of my workshops... I feel proud about these workshops I create, translating certain thoughts and concepts into living and dynamic experiences. Taking business people out of their desks, making them dance (without even noticing they are dancing), moving and REALLY throwing a bomb into their comfort zones... and... they love it! The workshops are planned in such way that dynamic exercises are metaphors for specific subjects the group is dealing with. I have been asked to create custom made workshops for teams that were having difficulties with their boss, or talk about "Engaging in projects", "Team building", etc... this specific article is about a workshop I created to help people understand the rhythm, tempo and ways of different cultures...

How do we respond to globalisation
23/06/2009
Globalisation. The term itself sounds like something very modern and academic....
But is it really? A recent LearnShop arranged by the Global Quality Identity Programme, dealt with globalisation and how we respond to it in a - to many of the participants - entirely new and unorthodox way.
The facilitator, Brazilian actor Marcello Bosschar, took the learnshoppers on a trail around the globe. Exploring cultural traits from Brazil to India, from China to Denmark. Inviting them to take a step out of their comfort zones and into a world of exploration of cultural boundaries, assumptions and group distinctiveness.
'The key challenge', said Marcello Bosschar, is using only the right side of your brains in order to explore feelings, imagination and risk taking".
"Our goal will be to understand how different we all are and how differently we perceive the world around us", continued Marcello. "The way we perceive even the most basic things around us such as colours, words and social codes can take unexpected turns depending on the context".
And so they did on this morning in the fitness gym in the basement at Nybrovej. 24 people from Global Quality took part in the LearnShop and were in for a real challenge on working only with their bodies and the right side of their brains.
And so through theatre games and exercises, the globalisation LearnShop offered a brief moment where the learnshoppers got a glimpse of how the external influences such as the use of space, language and culture can either work in our favour or against us.
No doubt, the learnshoppers left this morning session with a whole bunch of new reflections about globalisation.
The Global Quality LearnShops have been developed as part of the GQ Identity Programme as a means to share knowledge and experiences as well as to strengthen the common Global Quality Identity.

THE ART OF EXPRESSION



I developed this unique program while I worked at Sunrise International Pre-School in Copenhagen, Denmark. It is based on my years as a Theater professional, searching for a more dynamic way for teaching Drama for children. After years of improvisations with a group of 3 to 6 Year olds, I realized that I had created a method. A method that little by little prepared the children to be able to stand up and tell their own story. A story they have created themselves.
This method that I named "The art of expression" is a mix of Theater exercises with yoga/meditation and dance. After 25 Years of professional experience on these fields, I finally realized I could take it all beyond the stage and utilize it in a much broader way, helping the children to strengthen their self-steem, find joy in expressing themselves and making it crystal clear while activating mind, body and soul!
Soon this method was helping children in their literacy progress and in all department of their growing process with amazing feedback both from parents and colleagues alike.

Now I offer this program to different International Schools in Denmark and just wrote a book, in Portuguese, that exercises the multiple intelligences within the children through a fun and moving story.

Thursday, 26 May 2011

A trança toda vermelha!



Bastava ela semi-cerrar os olhos quando o balanço voltava de seu vai e vêm, e a sua longa trança cobrisse por alguns segundos a sua visão, para que ela visse o mundo em vermelho.

Ela era ruivinha, ruivinha.

Era como se alguém pegasse um pincel melado do vermelho mais rubro e fizesse um risco no azul do céu.

O balanço era uma máquina de fazer vento. E de fazer frio na barriga também!

MAIS ALTO, MAIS ALTO! Esse era o seu mantra silencioso!

Por alguns segundos mais pertinho do céu.

E de novo a terra,
e logo céu novamente,
e terra.

O legal da Terra era o impulso que ela dava para o céu.

Azul.

Terra, céu, raio de fogo com frio na barriga, Terra e céu novamente e assim por diante.

Ah, e risos! Ela sentia o seu corpo sorrir. Seus braços sorriam, suas pernas e coração também.

E Poder! O movimento das pernas, o gingado do corpo fazia com que a intensidade do vôo fosse controlada.

De vez em quando ela não sentia nada e aí então sorria.

Era muito bom!

E se...

O Azul se mostrava cada vêz mais atraente. A terra começava a se fazer inoportuna.

E se...

No próximo azul, pensou ela com seu estômago repleto de borboletas, no próximo azul eu vou.

No próximo azul, eu vôo!

E assim foi.

Céu, raio de fogo com frio na barriga, terra, céu azul e... as mãos soltaram a máquina.

 Tal qual Ícaro ela vôou.

Sem consciência, em riso,  por alguns segundos chegou um pouquinho mais perto do céu.

Fugaz.

Logo a Terra a clamou. Assim como a mãe que percebe um filho que se distancia além de um limite seguro.

A terra a chamou.

Terra.

Água.

As suas lágrimas molharam a Terra.

Sangue.

Não se sabe de onde pois ele vinha de tantas partes.

Dor.

As borboletas fugiram assustadas de seu estômago no exato momento em que ela abriu a sua boca e gritou por sua mãe.

Só céu é morte. Só terra também. O encanto e a alquimia estão na mistura balanceada dos elementos. A sopa primordial, a receita da vida.

Ela cresceu, virou física e hoje leva a sua filha para o mesmo parque onde a química da vida se revelou para ela.

Pintou os cabelos de castanho e, silenciosamente agradece pelo fato de sua filha não ser ruiva.

Monday, 21 March 2011

Um curto-conto!



Um dia, uma velha numa casa.
Sem luz, sem velas, sem vida.
Com medo, com fome, confusa,
pensou em morrer.

Tudo parecia um sonho...

Na parede da casa existia um espelho.
No espelho, de vez em quando, existia a velha.
Na velha não existia nada, nunca.
Ou melhor: houve uma época em que algo havia existido.
Ou pior: houve uma época em que algo havia existido.

Que cafona!
Que triste!
Que patético.
Que nada...

Ela não conseguia decidir o quê!
E pensava em morrer.
Se ao menos conseguisse achar achar a chave.
Não da gaveta, mas da coragem.
A chave perdida da gaveta onde estava trancado o revólver era apenas uma desculpa para a falta de coragem.

E além do quê, "o qual é a música" havia voltado ao programa do Sílvio aos Domingos e isso era quase motivação o suficiente para que ela não pensasse em morrer.
Mas nada era perfeito...
O Sílvio Caldas, mesmo que voltasse a ser campeão por consecutivas 26 vezes, jamais seria o mesmo.
E o Aguinaldo Rayol?
E o Nelson Ned? Imagine... confessou num programa da TV Evangélica que era viciado em sexo! O Nelson Ned!!! E usava drogas... o Nelson Ned!!! E transava com 3 ou 4 mulheres ao mesmo tempo... O NELSON NED!!!!
Quem diria, Meu Deus, o Nelson Ned!!!
Tão... tão... baixinho... o Nelson Ned!
E o chacrinha? Por que não mostram mais o programa dele?
Era tão... tão...
Ah, é! O Chacrinha morreu!!!
Mas a Elke Maravilha não. Ela é tão... tão...
alta!
Mas e a Wilza Carla? E o Décio Pitinini e o Pedro de Lara???
Eles eram tão... tão...
tão...
E assim ela passava o dia,
Procurando adjetivos para classificar os fantasmas mortos e vivos de seu passado tão presente.
Na verdade, quando ela não achava os adjetivos era quando se sentia melhor.
Dava um vaziiiiioooooo... um vaziiiiiiooooooo
Um vazio tão gostosoooooo...

Estes eram os únicos momentos em sua vida não preenchidos pelas imagens de Pepe, o dublador e a sua companheira Virgínia, com a cara toda melecada de purpurina...
Ou da voz do chacrinha jogando o bacalhau da maria Bethania em cima do auditório,
ou a musiquinha do APRACU...

Tudo era tão...
Tão...
tão...

Sunday, 20 March 2011

Marcello & Karen Blixen



Numa manhã ensolarada de Domingo, de 1994, fui visitar a casa de Karen Blixen em Rungsted, que fica a mais ou menos 30 minutos, de carro, de Copenhagen.
Eu tenho um certo fascínio por ela, desde que assisti ao filme "Out of Africa" com a Meryl Streep encarnando a Baronesa. Interessante que o meu fascínio por ela tenha se dado primeiro por sua personalidade, a sua história de vida, e isso tenha me levado a conhecer os seus livros. Geralmente esta ordem se inverte: Voce lê algo, se identifica, e então fica curioso sobre o autor da obra.
Entre os meus favoritos de Isak Dinesen (nome masculino com o qual ela assinava seus livros no início de sua carreira como escritora) está "A festa de Babete". Não apenas pelo valor literário em si, mas pela linda analogia sobre as opções que fazemos na vida, o prazer que extraímos, ou não, dela, o papel da culpa religiosa (nesse caso Protestante) na infelicidade humana e também a beleza de exercemos a nossa profissão/Dom pelo simples deleite de podermos oferecer o nosso melhor para o mundo à nossa volta, como um presente!

Não dei sorte. O Horário de visitação havia se encerrado. Como eu não queria perder a viagem fiquei ali, pelo jardim que era lindo. Não tinha ninguém em volta, a casa grande, bem cuidada, estilo tradicional Dinamarquês, uma casa de Fazenda à beira Mar... me arrisquei, chegando bem perto da casa. Olhei através de uma janela, a luz era difusa mas pude ver alguns móveis, poltronas e vendo assim, do lado de fora, como eu não via os avisos de "por favor não tocar", tudo parecia vivo e não um display de um museu. Até mesmo um arranjo de flores frescas se encontrava no meio da mesa de Jantar. Retratos, máscaras Africanas e ela, ali, dando os últimos toques no arranjo de hortênsias colhidas de seu jardim. Ela me viu e sorriu. Me convidou para entrar e tomar um chá. O dia estava tão lindo que propus outra coisa: Karen, vamos dar uma caminhada pela praia. Eu sabia que ela adorava estas caminhadas. Ela veio, envolta em uma linda e colorida manta de algodão indiano.
Nós caminhamos por um momento, ela já estava muito debilitada, nos sentamos na areia olhando para o mar... assim seria a nossa relação... não precisaríamos falar muito.

De qualquer forma a Rua estava repleta de carros estacionados à frente de sua casa, a praia muito cheia de gente e bundas Dinamarquesas, fluorescentes de tão brancas, e até mesmo latas de cerveja e refrigerante espalhadas em volta de uma lixeira já bastante cheia. Vivemos num mundo de tanto conforto, tanto avanço tecnológico e tanto isso e tanto e tanto e tanto e só não sabemos de uma coisa: Quão deliciosa deveria ter sido a vida sem isso e sem aquilo e sem aquilo outro também!

Fui para os fundos de sua casa, existe um lago lindo e, na beira do lago, um banquinho de madeira, quase escondido por entre arbustos e árvores. Me sentei ali, longe do barulho que vinha da praia, olhei para o céu azul Copenhagen, olhei para as plantas à minha volta (muitas delas exóticas) e me perguntei se ela mesma havia plantado as flores de seu jardim.
Fui sentindo uma paz gostosa... fiquei ali em silêncio e o silêncio foi entrando em mim, fazendo aquela paz gostosa que eu estava sentindo se expandir e se fundir com o silêncio, criando um daqueles mágicos momentos onde nos sentimos um com a brisa, o cheiro das plantas, a luz do Sol... o tempo foi passando suavemente, em silêncio... o Sol já até mesmo havia se afastado quando uma suave mão, branca e magra, pousou em meu ombro... Confesso que me assustei um pouco visto que acredito em vida depois da morte. Me virei abruptamente e vi uma mulher de cabelos grisalhos com um sorriso discreto de reconhecimento em seus lábios.
Ela era magra e não muito alta. Era Clara Selborn. Ela havia sido a secretária Pessoal de Karen por muitos e muitos anos e agora gerenciava tudo o que envolvia o nome Karen Blixen. Isso tudo eu vim a saber após nosso "encontro". Ela foi muito gentil e me falou sobre os horários de visitação da casa. Eu agredeci, me levantei e fui andando, ela veio junto a mim e disse num tom saudoso: "Sabe, voce estava sentado exatamente no lugar favorito da Baronesa. Ela vinha para cá, todas as tardes, nesta mesma hora, e ficava contemplando o jardim, em silêncio"...

E assim foi... minha tarde em silêncio, em companhia de Karen Blixen.

Saturday, 19 March 2011

Marcello e o Japão


Tsunami... Terremoto... semana passada foi dedicada a introduzir essas palavras e o que elas significam para o meu grupo de 21 crianças, entre 4 e 6 anos. Estes dias elas provavelmente escutaram bastante essas palavras, viram imagens de um mundo destruído, passam por jornais que talvez estejam abertos na mesa do café da manhã com fotografias de mães abraçando seus filhos ou de casas flutuando entre carros e barcos... a gente as vezes esquece de que "os pequenos" precisam de tradução. Uma tradução que requer tempo e paciência.
Então dividi o grupo em 3 e com cada grupo fiz a mesma coisa. Comecei com a base, o chão. Usei feltro marrom. Aos poucos fomos construindo um mundo, casas de lego, pessoas, animais, plantas, relações foram estabelecidas entre os bonequinhos: Mãe, bebê, avô, amigo, etc... e aí então construímos o mar. Usei meu cachecol de pashmina azul turquesa, espalhado no chão, perto da cidade... barcos, peixes, pessoas que vinham para a praia brincar e voltavam para casa...
e aí então, a terra começou a tremer... primeiro em nossa sala de aula, pedi para que eles se levantassem e brincamos de sentir a terra tremer e mexer embaixo de nossos pés! Foi uma algazarra! Caímos no chão, os chamei para debaixo de uma mesa e fingi que objetos caíam sobre ela, enquanto nos olhávamos com uma mistura de fascínio e excitamento.
Ainda embaixo da mesa, expliquei que as pessoas corriam para fora das casas (não o fizemos pois estava muito frio, nevando, lá fora) pois muitas casas "quebravam". Então voltamos para a nossa cidade, construída à beira mar. Lá, a terra também tremeu. Mexi o feltro que se fazia de chão, as casas caíram, alguns edifícios quebraram e as pessoas corriam para todos os lados. As crianças nem piscavam de tão interessadas que estavam: Terremoto, vocês podem dizer essa palavra? Terremoto. E o que acontecia quando o chão tremia embaixo do mar? Perguntei. Uma onda gigante vêm e entra na cidade, uma menina falou. Num desses dias eu tive uma menininha Japonesa fazendo parte de um desses grupos. Logo no início da história ela reconheceu imediatamente a o que eu me referia: Japão! Minha avó está bem, ela disse, como se repetindo algo que escutou muitas vezes de seus pais: Minha avó está bem!
Sim, quando o chão treme e se mexe debaixo do mar, o mar fica muito agitado e forma ondas muito grandes. E dizendo isso, eu mexi a Pashmina azul turquesa que se levantou e cobriu a cidade já destruída. Aos poucos, trazendo com ela algumas pessoas, animais e casas, a "onda" voltou para seu lugar... E o bebê? Perguntou um garotinho. Ele está bem? Na vida real, a gente sabe que o bebê não estaria bem, necessariamente, mas na nossa estória, baseada em fatos reais, o bebê estava bem. Já o seu cachorrinho... foi levado pela Tsunami. Voces podem dizer essa palavra? Tsunami? Por alguma razão essa palavra foi mais difícil do que terremoto. Numami, mamami, samimu... Tsunami... TSU-NA-MI... ainda estamos trabalhando nisso, mas o que ficou foi a sensação de que, da próxima vez que eles ouvirem essas palavras elas virão acompanhadas de informações, imagens que farão sentido para essa galerinha que está tão distante desse desastre mas que ficou um pouquinho mais perto, mesmo que através da tristeza de saber que um garotinho, em algum lugar desse mundo perdeu o seu cachorrinho que ele tanto gostava.

Empatia, foi a lição dessa semana. Eu cresci escutando que existiam muitas crianças passando fome, na África (não sei porque na África visto que alí mesmo em Recife, nas ruas, já existiam crianças com fome mas talvez pelo fato da África estar tão longe que ninguém se sentiria na obrigação de fazer algo a respeito disso, enquanto que sair de casa e dar "um pulinho" alí na esquina já resolveria muita coisa ). O fato foi que agora me vejo, quando as crianças estão brincando com a comida, trazendo a atenção delas para as crianças que estão no Japão, sem casa e sem comida... E acho que este posting só existiu pois senti a necessidade de dizer algo sobre os comentários superficiais e equivocados, de pessoas que estão "julgando" a forma com que o povo japonês tem expressado sua dor. Na minha forma de ver, com uma dignidade, uma generosidade inigualáveis na história de catástrofes da humanidade. Só porque eles não saíram nas ruas gritando e puxando o cabelo de desespero não quer dizer que não há sofrimento. Quantos de nós já não experimentou o silêncio que se segue a uma notícia trágica? Quando o meu avô morreu, o que existiu entre nós (eu estava com ele no momento de sua morte) foi um silêncio indescritível. Ele sabia que iria morrer, eu segurava a sua mão, me fazendo presente... que palavras podem ser ditas em momentos assim? Vejo imagens de homens e mulheres sentados na rua, olhando para os escombros do que era seu lar, com mãos sobre suas bocas, olhos baixos...
Chorar, choro eu, ouvindo histórias de como uma esposa idosa encorajava seu esposo debilitado a subir a escada, passo a passo, enquanto a água invadia sua casa. Ela dizia: Mais um passo, vamos... a perna direita, agora a esquerda... e de repente ele não ouviu mais nada, olhou para trás e ela já não estava, levada pela água. Nunca tentou passar à frente do marido, nunca gritou com ele nem o chamou de aleijado. Ficou atrás dizendo: Mais um passo. Perna direita, agora a esquerda... chorei por ele que nesse momento, ele não conseguia mais falar, olhou para baixo e se silenciou... O que acontece com pessoas que confundem essa forma profunda de se lidar com a dor com apatia??? Será que agora achamos que todo o mundo reage como nós reagiríamos? Graças a Deus que não pois se assim fosse o caso, o Japão estaria numa situação ainda pior do que se encontra, com pessoas furtando, empurrando, comprando mantimentos para elas mesmas, ignorando pessoas atrás delas nas filas...
Sei que esse senhorzinho que perdeu sua esposa enquanto ela o encorajava a subir as escadas da casa nunca vai esquece-la mas ele não é o único. Apesar de eu nunca saber quem ela foi, nunca conhecer o seu rosto, sua atitude de amor profundo sempre vai ressoar no meu coração. O que desejar para ele, para esse povo? Será que preces os alcançam? Então aqui vão elas, direto de um coração que se une aos seus.

Obrigado pela lição de amorosidade, de tranquilidade, generosidade e força! Após Hiroshima e Nagasaki, após tanta dor, não existiam textos nem movimentos que pudessem contar o nível da tragédia que esse povo sofreu, e assim foi criada uma forma de arte, uma dança que se chama BUTOH. Uma dança que falava sobre as deformações e perdas do povo Japonês... Isadora Duncan dançou sem parar ao saber da morte de seus 2 filhos num acidente de carro. "Foi a única forma que consegui expressar minha dor", ela disse em sua auto-biografia.
Então, só para terminar num tom transcendente e esperançoso, vou citar o poeta sufi Rumi:
"Dança, dança meu coração"!